A seguir,
são apresentadas duas obras: um quadro do pintor espanhol Pablo Picasso
(1881-1973) e as estrofes iniciais do poema “Ode triunfal”, de Álvaro de
Campos, um dos heterônimos dos poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). A
primeira é um exemplo de arte cubista, e a segunda, de arte futurista.
As senhoritas de Avignon
Picasso
provocou reações de horror quando tornou público o quadro as senhoritas de Avignon,
retrato de prostitutas nuas pintado com técnicas inusitadas para a época. A
tela representava o espírito vanguardista e hoje é considerado uma das pinturas
fundadoras da arte moderna.
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da
fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[...]
Ah, poder exprimir-me todo
como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as
dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Sobre os textos
1- O quadro As senhoritas de Avignon é considerado o marco
inicial do Cubismo, estética que se vale da fragmentação e de figuras geométricas
para representar os objetos de vários ângulos simultaneamente.
a)
Descreva a forma como as
mulheres foram retratadas nessa obra.
b)
O que isso pode dizer
sobre a relação entre a arte e a realidade?
2- De que modo a multiplicidade de perspectivas da pintura
cubista afeta a recepção da obra pelo espectador?
3 3- O futurismo tem um olhar dirigido para o novo. O poema acima
manifesta, em tom exaltado, ideias defendidas por esse momento.
a)
Cite duas passagens que
mostra esse tom. Ela se relaciona o que?
b)
Considere sua resposta
ai item anterior. Que os princípios do futurismo podemos inferir do poema?
4 4- O eu lírico do poema afirma seu desejo de se fundir com as máquinas,
adquirindo seus atributos. De que maneira a própria composição do poema realiza
essa aspiração?
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